quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Tecnicidades, Identidades, Alteridades

Foi passada a leitura de dois textos do livro Sociedade Midiatizada, Dênis de Moraes (org):
- Comunicação Social e Mudança Tecnológica: Um cenário de múltiplos desordenamentos de Guillermo Orozco Gómez
e
- Tecnicidades, Identidades, Alteridades: Mudanças e opacidades da comunicação no novo século.
de Jesús Martín-Barbero

Partindo de uma análise do atentado de 11 Setembro em NY e do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o autor considera a comunicação, “neste malfadado começo de século” (que mau fado é esse?) Citou as “oportunidades estratégicas” da digitalização e da “configuração de um novo espaço público e de cidadania” (acho tudo isso muito bom...), “presa entre fortes mudanças e densas opacidades” (até ai...). Cita Habermas, que “vê emergir a razão comunicativa” e propõe pensar a “hegemonia comunicacional do mercado na sociedade”, ou “a conversão da comunicação no mais eficaz motor do deslanche e inserção das culturas – étnicas, nacionais ou locais – no espaço/tempo do mercado e das tecnologias”, e também “o novo mapa que essas tensões desenham entre as mutações tecnológicas, as explosões e implosões das identidades e as reconfigurações políticas das heterogeneidades.”

Atenta para uma tendência ao isolamento da comunicação, “autismo epistêmico”, e segue no desenho de “um dos mapas indispensáveis na multidimensionabilidade de seus eixos temáticos e na transversatilidade de seus planos de análises.”

I. A mediação tecnológica do conhecimento na produção social
Cita Manuel Castells ,
“O que está mudando não é o tipo de atividades nas quais participa a humanidade, mas, sim, sua capacidade de utilizar como força produtiva o que distingue a nossa espécie como rareza biológica, sua capacidade de processar símbolos”.
Entendo que “o tipo de atividades” que a humanidade participa está mudando sim, afinal o mundo virtual tem possibilitado inúmeras novas atividades, novas dinâmicas sociais... o que não tem mudado é a nossa capacidade de utilizar produtivamente o processamento de símbolos sensíveis. Estamos em evolução... constantemente expandindo nossa cultura, inclusive ampliando nossos meios de comunicação... nossos signos... nossos significados...

Barbero inicia “Dois processos estão transformando radicalmente o lugar da cultura em nossas sociedades:
Revitalização das identidades e
revolução das tecnicidades
.”
O autor é um estudioso da América-latina, não sei se quando fala em “nossas sociedades” está se referindo a essa realidade... me incomoda as generalidades porque apesar de entender a “aldeia global” proposta por McLuhan como frase de “impacto sensorial” tenho consciência de que boa parte da humanidade, mais da metade ainda não tem acesso a informática, vi em algum lugar uma projeção de que apenas 1/3 tem acesso a TI... nossos problemas globais ainda são bem grandes, no Word Clock encontramos dados bem interessantes, como os pontos de internet corresponderem a menos de 1/7 da população mundial.


Poodwaddle.com
Estatísticas também na World Health Organization Statistical Information System

Concordo que “os processos de globalização econômica e informacional estão reavivando as identidades culturais“ e “estão reconfigurando a força e o sentido dos laços sociais, e as possibilidades de convivência nacional e ainda no local.” Acredito de convivência mundial, a conexão é global, o espaço em que podemos atuar está sendo reformulado...

A Revolução das Tecnicidades como “um novo modo de produzir, confusamente associado a um novo modo de comunicar, transforma o conhecimento numa força produtiva direta." Não entendi o “confusamente” nem o que significa essa “força produtiva direta”, em algum momento o conhecimento, o saber, não foi uma “força produtiva direta”?

Cita J.Echeverría, Gh.Chartron, A.Reneaud, e escreve que a tecnologia “está conduzindo a um forte apagamento de fronteiras entre razão e imaginação, saber e informação, natureza e artifício, arte e ciência, saber experiente e experiência profana.” Só espero que esse “apagamento de fronteiras” se refira a um relativismo de significados e não a um caos conceitual, pois as palavras tem significados que precisam ser considerados se pretendemos promover uma comunicação bem sucedida.

Em “1. Peculiaridades latino-americanas da sociedade do conhecimento”, nos identifica também como “sociedades do desconhecimento”, “do não reconhecimento da pluralidade dos saberes e concorrências culturais”. Contextualizando o fato de que “nossos povos podem assimilar as imagens da modernidade que as mudanças tecnológicas, “mas é em outro ritmo, bem mais lento e doloroso, que podem recompor seus sistemas de valores, de normas éticas e virtudes cívicas. ” Quero acreditar que as novas tecnologias estejam agilizando essa recomposição dos nossos sistemas de valores...

Em “2. Aparição de um meio educacional difuso e descentrado”, escreve sobre a “transformação nos modos de circulação do saber (J.Rifkin, H. Fischer)”.
Achei bem interessante a colocação sobre a “reintegração cultual da dimensão separada e desvalorizada pela racionalidade dominante no Ocidente desde a invenção da escrita e do discurso lógico, isto é, a do mundo dos sons e das imagens relegado ao âmbito das emoções e expressões.”
“o hipertexto hibridiza a densidade simbólica com a abstração numérica, fazendo com que se reencontrem as duas, até agora ”opostas”, partes do cérebro (F. Varela, E. Thompson e E. Rosch). Daí que o número está passando de mediador universal do saber a mediação técnica do fazer estético o que por sua vez revela a passagem da primazia sensório-motriz à sensório-simbólica.”

Em 3. Mudanças nos mapas trabalhistas e profissionais”, expõe as novas configurações que se estabelecem entre o trabalhador e a empresa, cujos vínculos estão desaparecendo, gerando um “novo profissional disposto à permanente reconversão de si mesmo, e isso num momento em que tudo na sociedade faz do individuo um sujeito inseguro, cheio de incertezas, com tendências muito fortes à depressão ao estresse afetivo e mental.” E conclui que ”o valor e o sentido do trabalho profissional passa a se vincular a uma criatividade e a uma flexibilidade atadas a lógica mercantil da competitividade que enlaça confusamente saber e rentabilidade.” Achava que a ‘estabilidade empregatícia’ fosse uma conquista recente, e que criatividade e flexibilidade para se sustentar fazem parte da cultura humana desde os primórdios...

Sociedade Midiatizada

Na 3ª aula foi apresentado o livro Sociedade Midiatizada (Editora Mauad), organizado por Dênis de Moraes, 2006 que reune artigos de dez autores.
Em SOCIEDADE PLUGADA A tecnomitologia em tempo real o autor escreve sobre o livro.
“...a expectativa implícita no debate das idéias é a de vislumbrarmos expressões de vida e horizontes criativos para além das satisfações descartáveis, na contramão das certezas fúteis.”

Lemos apontamentos do artigo Eticidade, campo comunicacional e midiatização de Munis Sodré, que integra o livro, e procurando na web encontrei esse texto Eticidade, campo comunicacional (Sobre a construção do objeto) onde as passagens são idênticas, talvez ele tenha revisado... Gosto muito do estilo explicativo do autor que ao desenvolver suas reflexões está sempre esclarecendo o significado dos termos que usa... muito bom porque nos leva a pensar por um caminho onde os elementos vão sendo apresentados e vão tomando forma...
Alguns pontos...
“ É preciso esclarecer o alcance do termo "midiatização", devido à sua diferença com "mediação" que, por sua vez, distingue-se sutilmente de "interação", forma operativa do processo mediador. Com efeito, toda e qualquer cultura implica mediações simbólicas, que são linguagem, leis, artes, etc. Está presente na palavra mediação o significado da ação de fazer ponte ou fazer comunicarem-se duas partes (o que implica diferentes tipos de interação), mas isto é na verdade decorrência de um poder originário de descriminar, de fazer distinções, portanto de um lugar simbólico, fundador de todo conhecimento. A linguagem é por isto considerada mediação universal.”

“ Já midiatização é uma ordem de mediações socialmente realizadas - um tipo particular de interação, portanto, a que poderíamos chamar de tecnomediações - caracterizadas por uma espécie de prótese tecnológica e mercadológica da realidade sensível, denominada medium. Trata-se de dispositivo cultural historicamente emergente no momento em que o processo da comunicação é técnica e mercadologicamente redefinido pela informação, isto é, por um produto a serviço da lei estrutural do valor, também conhecida como capital.”

“ A midiatização implica, assim, uma qualificação particular da vida, um novo modo de presença do sujeito no mundo ou, pensando-se na classificação aristotélica das formas de vida, um bios específico. Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles concebe três formas de existência humana (bios) na Polis: bios theoretikos (vida contemplativa), bios politikos (vida política) e bios apolaustikos (vida prazerosa). A midiatização pode ser pensada como um novo bios, uma espécie de quarta esfera existencial, com uma qualificação cultural própria (uma "tecnocultura"), historicamente justificada pelo imperativo de redefinição do espaço público burguês.”

“ A questão inicial é a de se saber como essa qualificação atua em termos de influência ou poder na construção da realidade social (moldagem de percepções, afetos, significações, costumes e produção de efeitos políticos) desde a mídia tradicional até a novíssima, baseada na interação em tempo real e na possibilidade de criação de espaços artificiais ou virtuais.”

“ Mas a prescrição moral-midiática é difusa, sem linearidade discursiva ou regulamentação explícita, de certo modo semelhante ao que Lyotard chama de diferendo, isto é, uma situação carente de regra de juízo estável, incapaz de solucionar um conflito. Semelhante também, vale observar, à lógica não-sequencial ou "caótica" do hipertexto cibernético, diante do qual a postura cognitiva mais adequada ao usuário é da "exploração" interpretativa, em vez da dedução de verdades. Nenhuma hierarquia discursiva organiza os regimes heterogênos de expressões da mídia, assim como não existe um agendamento homogêneo de seus conteúdos.”


Também vimos fragmentos de Koyaanisqatsi filme de Geofrey Reggio, produção de Francis Ford Coppola, música de Philip Glass, e fotografia de Ron Fricke - que depois dirigiu Baraka (1992), seguindo a mesma linha de imagens sonorizadas, sendo o tema mais ‘espiritual’ - me identifico mais.

Koyaanisqatsi é o primeiro da trilogia Quatsi – as palavras tem origem indígena Hopi – com uma narrativa visual dinâmica, imagens e sons nos levam a refletir sobre o modelo de sociedade urbana em que muitos vivem... Já tinha visto, assim como o Powaqqatsi... são filmes que cada vez que se vê se percebe novos elementos, sendo que as imagens são bem marcadas pelo ritmo da excelente trilha sonora...

Koyaanisqatsi: Life Out Of Balance (Vida Em Desequilíbrio), 1983




Powaqqatsi : Life in transformation (vida em transformação), 1988


Naqoyqatsi : Life as War (vida em guerra), 2002

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Das Referências e Equívocos Acadêmicos

É bom tomar cuidado com o que se lê, pois nem sempre podemos confiar no que lemos...
Alguém já deve ter dito e escrito isso, tanto já se disse e escreveu que é difícil dar crédito a todos os reais autores de pensamentos, que no final acabam fazendo parte de um conhecimento coletivo.
Na produção acadêmica se usa especialmente a escrita para propagar idéias, mas imagens e sons são cada vez mais comuns, assim como o descuido de alguns autores mestres, doutores em dar os devidos créditos a essas outras linguagens utilizadas. Será porque a História da Humanidade, propriamente dita, se inicia com a escrita e por isso alguns tem nela referência principal, de maior valor e a única a se considerar?

O que vale para crédito autoral é o que foi divulgado/publicado primeiro, sendo importante numa produção acadêmica séria citar fontes e referências, até para embasar o que se está apresentando.
Importante ressaltar que crédito autoral vale para qualquer tipo de produção, seja literária, visual, musical... pois o direito de propriedade autoral cabe nas diferentes linguagens. No Brasil uma obra só é de domínio publico após setenta anos da morte do auto.

© Copyright implica no direito de reprodução e pode ser transferido para terceiros, pelo autor que detêm o Direito Autoral da obra.

LEI 9.610 de 19/02/1998 – Lei dos Direitos Autorais http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm
Sobre Direito Autoral http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_de_autor

Imagine um mundo sem Copyright de Joost Smiers e Marieke van Schijndel
http://www.rizoma.net/interna.php?id=200&secao=colagem


Nesses tempos de copy e paste, apropriações diversas e significados múltiplos, a metodologia e as referências citadas podem ser um diferencial da qualidade e seriedade de um pesquisador/autor, sendo que o conteúdo em si é sem duvida o fator mais relevante. Não basta saber escrever, é preciso entender do que se está tratando e se fazer entender, e para isso o cuidado com o uso das palavras me parece fundamental.

A leitura do artigo Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano http://www.pucrs.br/famecos/pos/revfamecos/22/a03v1n22.pdf da pesquisadora, doutora Lúcia Santaella, publicado em dezembro 2003 na Revista FAMECOS de Porto Alegre nº 22, indicado pelo professor como referência ao Pós-Humano, me levou a escrever sobre algumas colocações da autora, na expectativa de contribuir para a leitura critica que acredito devemos fazer sempre.
*Negritos e tamanhos de letras meus.

No começo do artigo, sobre seu livro “Cultura das Mídias”, a autora se declara ousada pois “naquele momento, não tinha perfeita clareza do significado exato que estava dando para a expressão “cultura das mídias” ”
Meus colegas acharam que foi uma atitude corajosa ela ter assumido que não sabia bem sobre o que estava escrevendo... Se auto declarar ousada é se dizer atrevida, audaz, corajosa, o que me parecem atitudes positivas quando se pretende abordar um tema novo, ousar é preciso... Eu achei que foi pretensiosa ao escrever sobre sua ousadia e oportunista por publicar um livro sobre um tema que ela não tinha pesquisado o suficiente... Imagino que tenha sido muito criticada.
No decorrer do artigo fiquei com a sensação de que ela não tem ‘clareza’ de ‘significado’ nenhum, ainda mais uma ‘perfeita’ e um‘exato’.
Ella escreve...
“ 1 As formações socioculturais
Para compreender essas passagens de uma cultura à outra, que considero sutis, tenho utilizado uma divisão das eras culturais em seis tipos de formações: a cultura oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cultura digital.”
*Entendo que cultura se expande, passar de uma para outra me parece bem estranho... mesmo sendo passagens sutis...

**Propor eras culturais gera uma perspectiva didática interessante, mas no caso não seria melhor eras da comunicação ou da linguagem, pois parece que é disso que tratam essas formações... Cultura é um termo amplo, que possibilita muitas outras formações...

***De início senti falta de duas culturas, linguagens, que acredito serem básicas no processo de formação sociocultural, a gestual e a visual, que parece ela confunde com a Escrita...
Na Wik sobre Cultura Visual http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_visual
Sobre Cultura Gestual encontrei a Cultura Surda http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_dos_surdos


Na seguencia ella coloca “Antes de tudo, deve ser declarado que essas divisões estão pautadas na convicção de que os meios de comunicação, desde o aparelho fonador até as redes digitais atuais, não passam de meros canais para a transmissão de informação. Por isso mesmo, não devemos cair no equívoco de julgar que as transformações culturais são devidas apenas ao advento de novas tecnologias e novos meios de comunicação e cultura”...
*Se ela entende que os meios de comunicação são canais de transmissão de informação, como as transformações culturais" podem ser devidas as novas tecnologias e aos meios? Se somos nós seres humanos que em busca de novos meios para melhorar nossa comunicação agimos, criamos, promovendo a transformação cultural... Como podemos supor que o que criamos foi o autor da transformação? Para mim faz mais sentido dizer que as novas tecnologias são devidas as transformações culturais"... Entendo que as novas tecnologias são resultado das nossas demandas de adaptação, do nosso processo de evolução e expansão cultural.

Continua  “São, isto sim, os tipos de signos que circulam nesses meios, os tipos de mensagens e processos de comunicação que neles se engendram os verdadeiros responsáveis não só por moldar o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, mas também por propiciar o surgimento de novos ambientes socioculturais."
*Processos de comunicação responsáveis por moldar o pensamento e a sensibilidade humana? Entendo que são as idéias e os sentidos que produzem informação, que possibilitam estabelecer e moldar a comunicação.

Mais adiante...
“É certo também que, em cada período histórico, a cultura fica sob o domínio da técnica ou da tecnologia de comunicação mais recente.“
*Hã??? Como assim, a cultura ‘dominada’ pela técnica? Pela tecnologia de comunicação?
E continua...
“ Contudo, esse domínio não é suficiente para asfixiar princípios semióticos que definem as formações culturais preexistentes. Afinal, a cultura comporta-se sempre como um organismo vivo e, sobretudo, inteligente, com poderes de adaptação imprevisíveis e surpreendentes."
*Não consegui entender o que ela entende por Cultura... Esse ‘Afinal’ me remeteu a ‘Teoria de Gaia’ em que Lovelock defende que a Terra comporta-se como um organismo vivo com capacidade auto-reguladora de adaptação.
A TERRA COMO ORGANISMO VIVO por James E. Lovelock
http://www.miniweb.com.br/Ciencias/Artigos/introducao_conceitos.html
Gaia - A Terra Viva por James E. Lovelock http://www.profotos.com.br/Olhar_Ambiental/Gaia.htm
A vingança de Gaia Por James Lovelock http://serpensar.vilabol.uol.com.br/gaia.htm
Na Wik Teoria de Gaia http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipótese_de_Gaia


Na seguencia...
“A divisão em seis eras pode parecer excessiva, mas, se não as levarmos em consideração, acabamos perdendo especificidades importantes e reveladoras.”
*A mim seis eras culturais parece reducionista, o que realmente leva a perda de especificidades...

Ella continua...
“Por exemplo: a cultura impressa não nasceu diretamente da cultura oral. Foi antecedida por uma rica cultura da escrita não alfabética. A memória dessas escritas trouxe grandes contribuições para a visualidade da arte moderna. Ela sobrevive na imaginação visual da profusão dos tipos gráficos hoje existentes. Sobrevive ainda nos processos diagramáticos do jornal, na visualidade da poesia, no design atual de páginas da Web. Enfim, de certa forma, ela continua viva por que ainda se preserva na memória da espécie.”

*Quando escreve 'cultura da escrita não alfabética' que antecede a cultura impressa, deve estar se referindo as outras categorias do Sistema de Escrita, a uma subdivisão da “Cultura Escrita”, a 2ª formação que propôs.
**Realmente a 'visualidade da arte moderna' tem contribuições da escrita, inclusive da alfabética, mas não da “memória dessas escritas”, sim da percepção atual dela na sociedade. A arte de um período, reflete o próprio período e não uma memória, que é parte do passado tratado na História da Arte...

***Acho importante esclarecer o que é Escrita pois parece que a autora confunde com outras formas de representação.
No Aurélio:
1. Representação de palavras ou idéias por meio de sinais; escritura:
4. P. ext. Qualquer sistema mnemônico usado para registrar mensagens ou fixar a memória de acontecimentos.
5. E. Ling. Fixação gráfica da linguagem, de forma permanente ou semipermanente, num suporte.

Na Wik http://pt.wikipedia.org/wiki/Escrita
“A escrita é uma tecnologia, criada e desenvolvida historicamente nas sociedades humanas, podendo ser globalmente caracterizada como a ocorrência de marcas num suporte.”

Em Sistema de Escrita http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_escrita encontramos as categorias onde o alfabeto é uma delas, então "escrita não alfabética" seriam os sistemas logográficos , silábicos, abugidas, abjads.

“Os sistemas de escrita distinguem -se de outros possíveis sistemas simbólicos de comunicação pelo fato de que normalmente devemos entender alguma coisa da língua falada em questão para poder ler e compreender o texto com sucesso. Contrapõem-se a isso outros sistemas simbólicos como sinais de informação, pintura, mapas, e fórmulas matemáticas, que não necessariamente exigem conhecimento prévio de uma dada língua para permitir extrair deles o significado associado.”

Em Inglês o Sistema de Escrita é bem melhor explicado http://en.wikipedia.org/wiki/Writing_system

Outras referências...
Escrita por Marcio Basilio http://br.geocities.com/marciobasilio/Escrita.html
“Os primeiros e mais universais processos de comunicação são o gesto e a fala. Mas a necessidade de uma forma transportável e conservável da comunicação deu origem ao uso de objetos (pedras, cordas, etc.) ou de traços (desenhados, gravados, riscados, etc.).

O uso dos traços gráficos pode desenvolver-se em dois sentidos: a pictografia, isto é, a representação de objetos e acontecimentos, e a escrita na qual os sinais representam elementos lingüísticos.”

http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/historiadaescrita.htm
“Na Pré-História o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos na paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), trocavam mensagens, passavam idéias e transmitiam desejos e necessidades. Porém, ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização, nem mesmo padronização das representações gráficas.”


****Uma Imagem...
Quando indivíduos pintam o rosto e ou o corpo para significar que fazem parte de um grupo, ou que vão a caça, ou para algum ritual...
Estariam eles usando uma escrita não alfabética?
Falamos de visualidade da cor para apresentar um comportamento...
Apesar de representar um padrão não se trata de um registro gráfico.


Sobre o Pós-Humano...



Primo Posthuman, Natasha Vita-More's Primo is an artistic depiction of a hypothetical posthuman of transhumanist speculation.

“A cibercultura, tanto quanto quaisquer outros tipos de cultura, são criaturas humanas. Não há uma separação entre uma forma de cultura e o ser humano. Nós somos essas culturas. Elas moldam nossa sensibilidade e nossa mente, muito especialmente as tecnologias digitais, computacionais, que são tecnologias da inteligência, conforme foi muito bem desenvolvido por Lévy e De Kerckhove.”

*"Tipos de Cultura são criaturas humanas"? Se ainda fossem criações humanas, até passava...
**"Moldam nossa sensibilidade e mente”? Acredito q elas expressam, nos representam...
***Bom saber que a autora tem referencias boas com Lévy, que inclusive estou lendo, e De Kerckhove que não conhecia, pena que não citou nas referências bibliográficas o que ela leu deles.

“A hipótese que tem me norteado é que, em tempos de mutação, há que ficar perto dos artistas. Pelo simples fato de que, parafraseando Lacan, eles sabem sem saber que sabem. (...)Pressinto que são eles que estão criando uma nova imagem do ser humano no vórtice de suas atuais transformações. São os artistas que têm nos colocado frente a frente com a face humana das tecnologias.”
*Considero importante conhecer o que os artistas estão produzindo pois eles atuam como ‘agentes transmissores’ que através da sensibilidade captam não só as transformações sociais como as possibilidades, as decodificam e as expressam com criatividade. Mas entendo que os responsáveis pela criação do pós-humano são os cientistas das tecnologias avançadas, que como ‘agentes transformadores’ estão possibilitando uma nova imagem do ser humano, assim como os desenvolvedores de TI – Tecnologia da Informação que estão reformulando os meios de comunicação. Artistas são como os meios, sendo que alguns por serem muito sensíveis são capazes de 'prever' mudanças.

“Estou ciente de que a expressão “pós-humano” é perturbadora. De fato, essa expressão pode trazer muitos malentendidos. (...)
O termo pós-humano vem sendo empregado especialmente por artistas ou teóricos da arte e da cultura desde o início dos anos 90. A expressão tem sido usada para sinalizar as grandes transformações que as novas tecnologias da comunicação estão trazendo para tudo o que diz respeito à vida humana, tanto no nível psíquico quanto social e antropológico. "


*Pelo que entendi as transformações que estão acontecendo vem do desenvolvimento da tecnologia em várias áreas e não em específico a da Comunicação. O Pós-humano está mais relacionado as tecnologias avançadas como a biotecnologia, a nanotecnologia, a engenharia genética... sendo que a sinalização dessas transformações na vida humana tem sido expressadas pelo Transumanismo.
Sobre Tecnologia http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnologia
Sobre o Transumanismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Transumano
O termo foi criado pelo biólogo Julian Huxley em 1957, mas a definição atual é de Max More:
"O transumanismo é a classe de filosofias que buscam nos guiar a uma condição pós-humana. Ele inclui muitos elementos do humanismo, como o respeito pela razão e pela ciência, o compromisso pelo progresso, e a valorização da existência humana (ou transumana) na vida[…], mas difere no reconhecimento e na antecipação de alterações radicais na natureza e nas possibilidades de nossas vidas, resultando de várias ciências e tecnologias[…]."

Conclusão
No início do artigo a autora declara
"Tenho defendido a idéia de que nós, intelectuais, pesquisadores e mestres, devemos nos dedicar à tarefa de gerar conceitos que sejam capazes de nos levar a compreender de modo mais efetivo as complexidades com que a realidade em mutação nos desafia."
*Acredito que antes de 'gerar conceitos' é necessário estar atento e ser cuidadoso com os que existem. O artigo me transmitiu uma confusão conceitual entre cultura e comunicação. Entendo que parta de um ponto de vista da Comunicação, mas passar a idéia de que ela é a geradora da cultura, me parece bem equívocado. A cultura do ser humano e os ambientes socioculturais compreendem também outras complexidades como as emoções, o comportamento, as crenças, a ética, o conhecimento, a arte ... sendo a Comunicação apenas um dos fatores que envolvem as relações humanas.

**Não entendi porque a autora ignorou a Cultura Visual, um campo de estudo já bem constituído, e que me parece ser uma das bases da formação sociocultural. Acredito que os primeiros registros de representação tenham sido visuais, a identificação do que se via gerou padrões de significação que possibilitaram estabelecer a comunicação.

Um dos autores citados nas referências pela autora, Ken Hills declara em seu site atuar no campo da cultura visual. http://www.unc.edu/~khillis em 'Academic Interests':
“Several interrelated interests organize my research on visual cultures.”

No Blog ‘Cultura Visual’ tem uma análise sobre o livro An Introduction to Visual Culture, ed Routledge, 1999 de Nicholas Mirzoeff
http://yvettecenteno-culturavisual.blogspot.com/2008/09/nicholas-mirzoeff.html

***Entendo que hoje, 5 anos depois de ter escrito o artigo, tudo tenha ficado mais claro e com certeza mais acessível, já que o conteúdo na web tem se multiplicado... o fato é existem muitas publicação anteriores sobre o pós-humano e o transumanismo, que nem é citado no artigo.

*****Na postagem ’Bios Midiático e Pós-Humano’ listei algumas referências, de autores brasileiros que abordam o tema de forma bem mais esclarecedora.
Considero as referências bibliográficas citadas pela autora bem limitadas sobre o Pós-Humano.
Katherine Hayles, Virtual Bodies and Flickering Signifiers http://www.english.ucla.edu/faculty/hayles/Flick.html, neste artigo escreve bem superficialmente sobre o pós-humano mas coloca a importância da corporificação, outro termo bastante usado e ignorado por Santaella. Talvez tivesse sido mais específico a leitura do livro How We Became Posthuman: Virtual Bodies in Cybernetics, Literature and Informatics, 1999.
Hoje na web encontramos How We Became Posthuman: Humanistic Implications of Recent Research into Cognitive Science and Artificial Life http://online.itp.ucsb.edu/online/colloq/hayles1

E também FEATHERSTONE and BURROWS Cultures of Technological Embodiment: An Introduction de Body Society.1995 que provavelmente trate do assunto pós-humano. Na introdução disponível em http://bod.sagepub.com/cgi/pdf_extract/1/3-4/1 os autores falam dos prognósticos dados em 1960 para os anos 90 onde se viam vários robôs, mas não computadores, o que os leva a perguntar se existe a possibilidade de que em projeções para o futuro próximo possamos não perceber algo que venha a surgir e tenha significado crucial.

Encontrei na web outros autores que publicaram livros antes de 2003 e que tratam do pós-humano:
Dixon, Dougal (1990). Man After Man: An Anthropology of the Future.

Pepperell, Robert (1995).
The Posthuman Condition: Consciousness beyond the brain

Rahimi, Sadeq (2000).
Identities without a Reference: Towards a Theory of Posthuman Identity., M/C: A Journal of Media and Culture , Vol. 3, No. 3, June 2000.

Fukuyama, Francis (2002).
Our Posthuman Future: Consequences of the Biotechnology Revolution. Publicado em português no mesmo ano.

******Enfim, o artigo escrito por Lúcia Santaella me pareceu bem confuso e equívocado... Nessa frase a autora explicou bem a confusão em que se encontra e nos coloca:
“A confusão conceitual é proporcional à confusão dos modos como nos aparecem os fatos que pretendemos compreender.”


Em tempos de disponibilidade de conteúdos e acessibilidade em rede fica mais fácil confrontar teses, teorias e significados favorecendo uma leitura crítica e possibilitando a transmissão de valores que possam realmente contribuir para uma 'inteligência coletiva', tão bem proposta por Pierre Lévy.

Cultura - O que é? O que se entende? *


“Desde os primórdios até hoje em dia
 
o homem ainda faz o que o macaco fazia...” (Homem Primata)
Coco de Roda do Mestre Benedito em apresentação na Festa das Neves- João Pessoa, agosto/2008 - Foto:Lilia Tandaya
Coco de Roda do Mestre Benedito em apresentação na Festa das Neves- João Pessoa, agosto/2008 - Foto:Lilia Tandaya
Canta o grupo Titãs, dizendo que continuamos fazendo o que fazíamos no princípio... Isso é cultura, o que fazemos, dizemos, nossa linguagem, o que acreditamos, nossas crenças, expressões artísticas, manifestações sociais, comportamento, hábitos, o que cultivamos... 

Quando falamos de cultura falamos também de representação simbólica, da (re)produção de sentidos, da nossa identidade como indivíduo e como grupo social.

Vivemos em evolução cultural, transmitindo nossas tradições, nossos símbolos, de uma geração para outra, como seres dinâmicos, em expansão, somos sempre diferentes de ontem, nos adaptando as mudanças do tempo.


"A cultura é aquilo que permanece no homem quando ele já esqueceu tudo o resto."
Émile Henriot - escritor francês

"A cultura não lida apenas com as artes e universidades, mas com todos os valores da sociedade humana, que a um governo democrático incumbe respeitar e vitalizar. "
Jorge Cunha Lima – jornalista, escritor, poeta, presidente da TV Cultura


Dos significados - o denotativo e o conotativo
Para saber o que significa uma palavra é bom recorrer ao dicionário, onde costumamos encontrar o significado denotativo, aquele que é um consenso e que foi definido como referência para nos orientar. Já o significado conotativo é o que se entende, o que imaginamos e interpretamos na palavra, pertence ao campo da subjetividade e pode inclusive gerar um conflito cultural, pois cada um pode entender de forma divergente, levando ao desentendimento...

No dicionário Aurélio, encontramos várias definições, precisamente 15 acepções, para Cultura... Segue algumas, começando pela etimologia da palavra, sua origem.

do latim cultura - cultivar, cuidarS. f. (substantivo feminino)1. Ato, efeito ou modo de cultivar; cultivo5. O conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade. [Nas ciências humanas, opõe-se por vezes à idéia de natureza, ou de constituição biológica, e está associada a uma capacidade de simbolização considerada própria da vida coletiva e que é a base das interações sociais.]
6. A parte ou o aspecto da vida coletiva, relacionados à produção e transmissão de conhecimentos, à criação intelectual e artística, etc.
7. O processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um povo, uma nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições, criações, etc.; civilização, progresso.
9. Refinamento de hábitos, modos ou gostos.
11. Antropologia. O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais, etc. [Como conceito das ciências humanas, esp. da antropologia, cultura pode ser tomada abstratamente, como manifestação de um atributo geral da humanidade (cf. acepç. 5), ou, mais concretamente, como patrimônio próprio e distintivo de um grupo ou sociedade específica (cf. acepç. 6).]
12. Filosofia. Categoria dialética de análise do processo pelo qual o homem, por meio de sua atividade concreta (espiritual e material), ao mesmo tempo que modifica a natureza, cria a si mesmo como sujeito social da história.13. Tecnologia. Método ou atividade que consiste em promover, em meios artificialmente controlados, o desenvolvimento ou proliferação de matéria viva, como microrganismos, células e tecidos orgânicos, órgãos ou parte de órgãos.



Pescador de tarrafa no mar da Praia Formosa Cabedelo, fevereiro/2006 - Foto: Lilia TandayaFalamos em: Cultura de Massa, Cultura Popular, Cultura Erudita, Cultura Digital, Cultura Física, Cultura Material, Cultura Brasileira, Cultura Nordestina, Cultura Empresarial, Cultura Política, Patrimônio Cultural...


Pescador de tarrafa no mar da Praia Formosa Cabedelo, fevereiro/2006 - Foto: Lilia Tandaya O que não é cultura?
Tudo aquilo que diz respeito a natureza em si, aquilo que ninguém cultiva. Por exemplo: o mar, mas falamos de uma cultura marítima nos referindo as atividades que desenvolvemos ali.

Pescador de tarrafa no mar da Praia Formosa Cabedelo, fevereiro/2006 - Foto: Lilia TandayaEm um contexto social mesmo que nem todos os indivíduos se comportem da mesma forma, somos submetidos a um rótulo cultural que pode ser gerado até por uma minoria. Por exemplo: a maioria das pessoas de uma comunidade podem não ser corruptas, basta alguns cultivarem a corrupção para que se considere a comunidade possuidora de uma cultura da corrupção.



"São três as raízes da nossa cultura: a cultura ibérica, que é a cultura do privilégio; a cultura africana, que é a cultura da magia; e a cultura indígena, que é a cultura da indolência. Com esses ingredientes, o desenvolvimento econômico é uma parada..."
Roberto Campos - economista, diplomata e político brasileiro


"Investir em cultura não é caridade: é uma parceria que ajuda a projetar o Brasil internacionalmente."
Fernanda Montenegro – atriz brasileira 


Das secretarias e instituições culturais

Com o objetivo de identificar, valorizar e divulgar a cultura, locais como Secretarias de Cultura, repartições do poder público, atuam. Apresentação da Nau Catarineta de Cabedelo no São João de João Pessoa – Junho/ 2008 - Foto: Lilia TandayaTratam em específico das expressões artísticas dos indivíduos e coletivos, procurando promover na comunidade a manifestação das diversas linguagens - música, literatura, teatro, dança, o circo, as artes plásticas (pintura, escultura, fotografia, grafite...), os audiovisuais (cinema, vídeo...) e também o que se entende por cultura popular, o folclore, os folguedos, o artesanato, e ainda a moda e a gastronomia.

Apresentação da Nau Catarineta de Cabedelo no São João de João Pessoa – Junho/ 2008 - Foto: Lilia TandayaEm geral Secretarias de Cultura entendem que devem proporcionar entretenimento seguindo um calendário de festas mas, o ideal é reconhecer e estimular a produção cultural local. Ao realizar eventos de lazer para a população onde contratam músicos de outras regiões, estão desvalorizando os músicos locais e praticando uma evasão de recursos. É importante termos acesso a bons shows, usufruir da diversidade cultural, mas estes devem ser promovidos por outras instituições, empresas, até em parceria com o poder público, possibilitando um intercâmbio cultural.

Quando não cultivamos, valorizamos e prestigiamos a produção cultural de uma região ela corre o risco de ser massacrada por culturas mais fortes, mais valorizadas, e podem desaparecer, deixando a população sem identidade cultural. Isso gera empobrecimento inclusive econômico, pois o turismo, um dos grandes geradores de receita da atualidade, é motivado especialmente pela cultura que possa ser vivenciada no local.

Em tempo de eleição é importante votar com consciência cultural, escolhendo um candidato que tenha uma proposta real de valorização da cultura local. Para saber se ele vai cumprir com a proposta basta conhecer o seu histórico, pois somos hoje resultado do que fomos ontem. As boas mudanças não ocorrem de uma hora para outra, elas são conquistadas com empenho e responsabilidade cultural.

"Sem cultura moral não haverá nenhuma saída para os homens."
Albert Einstein – físico, autor da Teoria da Relatividade


* Parte desse texto foi publicado no jornal “O Povo”, que circula por Cabedelo, João Pessoa, Lucena e Santa Rita.

Imagem da Cultura

Na segunda-feira da semana em que comecei o curso de “Antropológica da Comunicação e Culturas Midiáticas”, participei de uma reunião com o candidato a prefeitura de Cabedelo Luceninha sobre o Plano para a Cultura. Fiquei com a sensação de que a palavra Cultura, até por ter um significado muito amplo, acaba sendo usada bem genericamente... e depois de ler o artigo da Lúcia Santaella que foi lido também na sala durante a 2ª aula... Essa sensação se intensificou e acabei escrevendo... ’Cultura – O que é? E o que se entende?’ e ‘Das Referências e Equívocos Acadêmicos’ que posto aqui.

http://superprehistoria.blogspot.com/2008_03_01_archive.htmlA primeira Imagem sobre o que é Cultura que lembro passaram na Faculdade de Artes Plásticas em que me formei, da qual não sei a autoria, foi a seguinte...

"Um homem primitivo andando na busca por alimento, tropeçou em uma pedra e se cortou. Depois de esbravejar pela dor e pelo sangue que corria, pegou a pedra e percebeu nela a utilidade de ferir, e que poderia ser usada para atacar a caça ou o inimigo... Desde então tem descoberto e transformado os materiais da natureza”

Assim, podemos entender que essa capacidade de perceber e significar é Cultura... em constante expansão e evolução...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"The Truman Show"

Ainda do 1º dia, as outras 3 perguntas referentes ao filme...

* Qual a relação do “The Truman Show” e o conceito de panóptico (Bentham/ Foucault)?



Leituras:
Em 30 anos de Vigiar e Punir (FOUCAULT) de Juarez Cirino dos Santos
http://www.cirino.com.br/artigos/jcs/30anos_vigiar_punir.pdf
“Na concepção de FOUCAULT, o panótico é o dispositivo do poder disciplinar, como sistema arquitetural constituído de torre central e anel periférico, pelo qual a visibilidade/separação dos submetidos permite o funcionamento automático do poder: a consciência da vigilância gera a desnecessidade objetiva de vigilância. O panótico de BENTHAM seria o princípio de nova anatomia política, como mecanismo de disciplina aplicado na construção de um novo tipo de sociedade, em penitenciárias, fábricas, escolas etc., permitindo a ordenação das multiplicidades humanas conforme táticas de poder, com redução da força política (corpos dóceis) e ampliação da força útil (corpos úteis) dos sujeitos submetidos.”

Michel Foucault. Pouvoir, folie, savoir par Martine Fournier
http://www.scienceshumaines.com/index.php?lg=fr&id_article=12227

Do exame à identificação ou do panóptico ao banóptico: memória e representações por Icléia Thiesen e Marco Aurélio Santana
http://www.encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1212615086_ARQUIVO_Thiesen&Santanaanpuhriofinaljunho[1].pdf

O panóptico: Foucault confirma Orwell (em busca da amena normalidade) por Paulo Giardullo http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/11/339480.shtml
"O sentido é dissecar o corpo social, transformar esta massa amorfa em micro seções individuais, para conhecer e controlar. O Poder nesse sentido é exercido de forma celular. Pois como diz Foucault, “toda forma de saber produz poder” *. Dividir, classificar, conhecer cada célula social para governar. O poder é então baseado na “Microfísica do Poder”, outra obra de Foucault."

* O negrito é meu. Fiz uma busca traduzindo para o que poderia ser a frase original “toute forme de savoir produit pouvoir” e não achei na net...

Na Wik http://fr.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault encontrei a citação:

« Il n'y a pas de relations de pouvoir sans constitution corrélative d'un champ de savoir, ni de savoir qui ne suppose et ne constitue en même temps des relations de pouvoir... Ces rapports de "pouvoir-savoir" ne sont donc pas à analyser à partir d'un sujet de connaissance qui serait libre ou non par rapport au système de pouvoir ; mais il faut considérer au contraire que le sujet qui connaît, les objets, sont autant d'effets de ces implications fondamentales du pouvoir-savoir… »
— Il faut défendre la société

Ah bom, a coisa é bem mais complexa...
Foucault, pelo que entendo, foi um filósofo que procurou evitar generalizações e trabalhou dentro de limites, inclusive geográficos, bem definidos...

Se ele tivesse pensado na realidade do Brasil talvez propusesse a relação 'poder-ignorância'... por aqui me parece que o poder se estabelece mais pela manutenção da ignorância, pela isenção do conhecimento... é comum ouvir dos indivíduos em todas as instâncias do poder público declarações do tipo “Não sei”... O 'não saber' parece bem instituído, poderíamos pensar que no fundo eles sabem, mas acho que não, é mais fácil não saber, ninguém se compromete e sem se comprometer você não se sente responsável, e pode dormir tranquilo. Podemos pensar ainda que para obter o poder é preciso saber, mas por aqui votamos em quem pode nos beneficiar, em quem tem carisma... é mais importante ser simpático do que ter conhecimento. Mas tudo bem, talvez possamos dizer que os que sabem de forma cativante manipular a ignorância, própria e dos outros, detêm o poder.

A resposta...
* Qual a relação do “The Truman Show” e o conceito de panóptico (Bentham/ Foucault)?
No fime a proposta do programa de televisão estabeleceu uma relação de submissão ao poder, um panóptico, ao criar uma ilha dentro de uma enorme estrutura fechada onde todo o ecossistema estava sobre controle de um centro de operações e os habitantes eram atores contratados, exceto o personagem principal. De acordo com Foucault o panóptico compreende o dispositivo que possibilita a submissão ao poder de forma automática, no caso seria a estrutura onde o personagem principal foi submetido a existir desde que nasceu. Já para Bentham, panóptico está relacionado as táticas de poder , ou seja a forma como usam a estrutura para manter o controle. (???)

Precisava ler mais... Mas ‘Poder’ não está dentro dos meus focos de interesse direto... As outras 2 questões foram mais tranquilas e pude ser mais ‘criativa’ nas respostas...

* Como discursos/projetos audiovisuais podem intermediar nos processos de tomada de decisões dos indivíduos e grupos sociais?

* Qual o significado do criador/ demiurgo do Show? O q há de metafísico na construção do físico?

Agora pense num professor plugado...

Bios Midiático e Pós-Humano

Na primeira aula depois de apresentar o conteúdo do programa, várias referências, promover uma leitura coletiva e mostrar partes do filme “Show de Trumam”, o prof. coloca essa pergunta (e mais 3) para reflexão...

* Como noções do BIOS e Pós-Humano ajudam na leitura dos sujeitos sociais nos ambientes midiáticos?

O Bios Midiático, descrito por Muniz Sodré, é uma forma de vida, uma ambiência virtual, uma nova maneira de viver a realidade da mídia, que se entende por espectro, definindo a existência humana na atualidade como uma relação de extensão da informação, onde o meio, o entorno sintoniza a mídia e o sujeito.

Quanto ao Pós-Humano, termo adotado a partir dos anos 90 por filósofos, cientistas e artistas que vislumbram a hibridização entre homem e máquina, carne e silício, transpondo os limites físicos e culturais do que tradicionalmente se conceitua como humano. Movimentos como o The Extropy , propõe o upload da consciência humana em um chip de computador, e acreditam que o corpo-humano é um hardware que esta ficando obsoleto, que devemos buscar um novo hardware para "habitarmos", construindo a nova criatura que irá nos substituir na escala evolutiva. Katheryne Hayles propõe uma interpretação menos radical, onde pós-humano é um processo de cibernetização que resulta do fluxo de informações através das redes conectando homens e máquinas.




Lemos na sala Objeto da Comunicação é a Vinculação Social do Muniz Sodré...
http://www2.metodista.br/unesco/PCLA/revista9/entrevista%209-1.htm
em Antropológica do Espelho eu defino mídia não como transmissor de informação mas mídia como ambiência, como uma forma de vida. Mídia como o que o Aristóteles chama de bios - isto é a cidade investida politicamente. É a sociabilidade da polis. Não é carne, o que chamamos de biológico hoje. Aristóteles fala de três bios: do conhecimento, do prazer e da política. Eu descrevo a mídia como o quarto bios, que é o bios midiático, virtual.”

Achei riquissimo e estonteante... daquelas leituras que fluem e você quer mais...
Li também:
Sobre a episteme comunicacional http://www.usp.br/matrizes/img/01/Dossie1MunizSodre.pdf
A televisão é uma forma de vida http://www.pucrs.br/famecos/pos/revfamecos/16/a02v1n16.pdf

Preciso ler o livro Antropológica do Espelho...

Quanto ao artigo da Lúcia Santaella Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano http://www.pucrs.br/famecos/pos/revfamecos/22/a03v1n22.pdf dado como referência ao pós-Humano, detestei achei confuso e cheio de equívocos conceituais, a começar pela banalização do termo ‘cultura’... naveguei pela web e encontrei textos bem mais esclarecedores...
Demasiadamente Pós-Humano, uma entrevista com Laymert Garcia dos Santos
http://74.125.45.104/customq=cache:R2BrJfCdUf0J:www.cebrap.org.br/imagens/Arquivos/demasiadamente_pos_humano.pdf+Laymert+Garcia+dos+SANTOS+pC3%B3s-humano&hl=en&ct=clnk&cd=17&client=google-coop-np

Será o Pós-humano? Ciberarte & Perspectivas Pós-Biológicas por Edgar Franco http://posthuman.tipos.com.br/arquivo/2007/02/19/sera-o-pos-humano

O pós-humano: biopolítica e cibercultura por Francisco Rüdiger
http://64.233.169.104/search?q=cache:cfLzue5wjgsJ:www.compos.org.br/data/biblioteca_174.pdf+p%C3%B3s+humano&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=33&gl=br

“Obteremos o futuro pós-humano mais adequado quando garantirmos que as tecnologias são seguras, tornam-se acessíveis para todos e respeitam o direito dos indivíduos controlarem seus próprios corpos” (James Hughes, 2005)

“há uma visão da era pós-humana que, em muitos aspectos, não é senão uma versão cibernética do social-darwinismo, que antecipa uma futura meritocracia baseada na sobrevivência do mais capacitado, representada pela superioridade psicológica e intelectual da humanidade pós-biológica” (Graham, 2002)

Humanidade é uma etapa temporária no caminho da evolução; não somos o máximo de desenvolvimento natural. É tempo para conscientemente tomarmos conta de nós mesmos e acelerarmos nosso progresso trans-humano. Não queremos mais deuses, fé ou paradas forçadas pela nossa timidez. Deixem-nos pôr abaixo nossas velhas formas, nossa ignorância, nossa fraqueza, nossa mortalidade. O futuro pertence à pós-humanidade” (More, Internet, 1994)

E partindo da Wik flui por vários artigos sobre Posthuman e Transumanism (>H ou H+), em inglês porque o conteúdo é maior...
http://en.wikipedia.org/wiki/Posthuman
http://en.wikipedia.org/wiki/Transhumanism

Posthuman Future, an illustration by Michael GibbsA WTA - World Transhumanist Association – For the ethical use of technology to expand human capacities. http://www.transhumanism.org me parece ser uma boa referência para entender os conceitos de Pós-Humano, trans(h)umano e o Trans(h)umanismo...

Transhumanists view human nature as a work-in-progress, a half-baked beginning that we can learn to remold in desirable ways. Current humanity need not be the endpoint of evolution. Transhumanists hope that by responsible use of science, technology, and other rational means we shall eventually manage to become posthuman, beings with vastly greater capacities than present human beings have.” Transhumanist Values - Nick Bostrom
http://www.transhumanism.org/index.php/WTA/more/transhumanist-values/

Descobri que sou TransumanistaH+ ...
Já era evolucionista, e até acredito nas possibilidades evolutivas que a tecnologia pode proporcionar se bem que pessoalmente prefiro investir num caminho mais natural, nossos sentidos tem muito potencial para desenvolver, a capacidade da mente humana ainda é um universo a ser explorado... penso em telepatia, em teletransporte... como fotógrafa adoraria ter a capacidade de registrar e transmitir imagens sem precisar de todos esses artefatos materiais... Fico pensando se esse investimento na ciência tecnológica não é de certa forma um 'desperdício' de energia que poderia ser aplicada numa ciência da mente ou dos sentidos...
Bom, nesses tempos múltiplos, dinâmicos e ainda globalizados temos espaço e gente para tuuuudo...













Poema “Pós-Tudo”, 1984 - Augusto de Campos

E como os gregos estão super atuais fecho com Heráclito de Éfeso...
“Panta Rhei”
Tudo se Move... Tudo Fluuuuuiiiiiii....